Linguagem, empatia e acolhimento são diferenciais no atendimento às crianças
- amandadesanta
- 31 de jul.
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A atuação do pediatra vai muito além do tratamento de doenças. O seu principal papel é na prevenção e promoção da saúde na infância
A criança não é um adulto pequeno. E é por isso que ela exige um atendimento diferenciado, feito por profissional especializado em Pediatria. As diferenças físicas, biológicas, anatômicas, psicológicas e de desenvolvimento exigem abordagens e considerações específicas do profissional da área médica. A assistência não especializada expõe as crianças a riscos significativos, que vão de erros em doses e medicações, dificuldades de diagnóstico de doenças específicas da infância, até no tratamento inadequado.
Mas, para atender os pequenos, não basta apenas conhecimento técnico. O pediatra precisa ter uma dose extra de empatia, carinho e acolhimento. Crianças são sensíveis ao ambiente e precisam se sentir confortáveis diante do profissional para que tanto a consulta como o tratamento e a recuperação ocorram de maneira natural e satisfatória. Essa identificação com o médico é fundamental, especialmente porque a criança precisará ser acompanhada desde o nascimento até os 18 anos.

Conforme recomendação da Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP), o acompanhamento pediátrico inicia-se na primeira semana de vida. Depois, as consultas são mensais até os 6 meses, trimestrais até os 18 meses, semestrais até os 4 anos, e anuais até os 18 anos. As consultas pediátricas de rotina – conhecidas como puericultura - são importantes para orientar sobre vacinas, alimentação, sono, doenças e acidentes, além de acompanhar e detectar alterações do crescimento e do desenvolvimento neuropsicomotor.
Luziana Suzuki Brambila, médica pediatra do Hospital São Francisco, de Cambé, conta que o atendimento à criança exige a adoção de métodos de avaliação adaptados, com o uso de brinquedos, por exemplo, e um tempo maior para a coleta de informações. Segundo ela, a linguagem e o comportamento usados na assistência pediátrica são cruciais para ganhar a confiança da criança.
“Devemos usar uma linguagem clara, afetiva e carinhosa, e utilizar recursos lúdicos e brinquedos para deixá-la mais confortável e segura durante a consulta, permitindo que ela expresse suas dores, sentimentos e emoções”, explica.
Crianças possuem sistemas fisiológicos em constante desenvolvimento, tornando-as mais vulneráveis a substâncias e doses de medicamentos. A capacidade de comunicação e entendimento variam com a idade. Por isso, há risco quando elas não têm acesso ao profissional médico especialista na infância. Além de doses e medicações específicas, exames de imagem, como raios-X, são usados com cautela em crianças, devido à maior suscetibilidade delas à radiação, sendo realizados apenas quando estritamente necessários e com avaliação criteriosa do médico.
“Procedimentos invasivos ou que possam causar desconforto excessivo são geralmente evitados ou modificados para minimizar o estresse e a dor, priorizando a segurança e o bem-estar da criança”, afirma Luziana.
Promoção da saúde
A atuação do pediatra, cujo dia é celebrado no Brasil em 27 de julho, vai muito além do tratamento de doenças, engloba a prevenção e a promoção da saúde. Isso se faz através das consultas de rotina, para avaliação do crescimento, ganho de peso, desenvolvimento, prevenção de acidentes e doenças, e promoção da saúde através de vacinas, alimentação saudável, sono de qualidade e prática de atividades físicas. O pediatra atua, também, no cuidado em saúde mental de crianças e adolescentes, e na orientação dos pais sobre os cuidados com as crianças.
Na avaliação de Luziana, atualmente, desempenhar a pediatria se tornou mais desafiador. Ela diz que, com o advento da tecnologia, os pais, muitas vezes, já chegam na consulta munidos de informações e questionamentos sobre assuntos que eles mesmos pesquisaram na internet. Portanto, o pediatra precisa estar sempre atualizado. O problema é que o excesso de informação ou, pior, o acesso à desinformação podem ser prejudiciais ao paciente.
“Alguns pais já chegam na consulta exigindo esse ou aquele exame, porque o ‘Dr. Google’ disse que seria necessário. Muitas vezes, esses exames são desnecessários naquele momento, mas o pediatra acaba solicitando por exigência dos pais ou então não os solicita, mas acaba gerando um certo desconforto”, relata.
Impacto emocional
A abordagem, o acolhimento e o atendimento na área da saúde podem impactar de maneira positiva ou muito negativa na vida da criança. A psicóloga especialista em terapia familiar sistêmica, Fernanda Barutta Pierri, afirma que muitos medos e angústias relacionados à ida ao médico ou ao hospital vêm de uma experiência traumática na infância. Segundo ela, esses sentimentos ruins relacionados à experiência passada, podem atrapalhar, inclusive, no processo de tratamento e melhora do paciente.

“Somos corpo e emoção, uma coisa caminha com a outra”, lembra.
De acordo com Fernanda, a postura dos pais ou responsáveis também interfere no sucesso da recuperação da criança que está doente. Ela explica que um pai ou uma mãe que age de maneira natural diante do quadro de saúde, que dá a importância devida, mas sem exageros, coloca o filho ou filha numa posição mais tranquila, o que acelera a melhora. Por outro lado, quando há excessos, seja por desinteresse ou por preocupação excessiva, o tratamento pode ser prejudicado.
Mas, a psicóloga acrescenta que a criança é “conquistável”, ou seja, é possível ganhar a confiança dela logo na recepção de uma clínica ou hospital. É por isso que, não só o pediatra, mas todos os colaboradores envolvidos no atendimento devem ser treinados para olhar nos olhos e sorrir, ser agradável e empático. Ela acrescenta que o consultório deve trazer elementos do universo infantil, com cores nas paredes e brinquedos, para que os pequenos se sintam acolhidos. Esse conjunto de iniciativas contribui para a humanização da assistência, facilita a atuação do pediatra e tranquiliza a família.
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